Doença Renal Crónica: sintomas, causas e prevenção



O que são os rins?

Os rins são um par de órgãos em forma de feijão. Cada um tem aproximadamente o tamanho de um punho. Estão situados na parte de trás do abdómen, um de cada lado da coluna vertebral.

Cada rim recebe sangue através de uma artéria renal, que é uma ramificação da artéria aorta, o tronco principal do sistema circulatório. Cerca de 20 % do sangue que sai do coração entra nas artérias renais.

Todo o nosso sangue passa pelos rins cerca de 150 vezes por dia.


Funções dos Rins

O rim é um órgão essencial ao bom funcionamento do corpo humano.

Tem várias funções, entre as quais:

  • Remover toxinas presentes no sangue;

  • Remover excesso de “líquidos”;

  • Controlar o equilíbrio de sais minerais (potássio, sódio, cálcio, fósforo);

  • Produzir eritropoietina para formar glóbulos vermelhos no sangue;

  • Produzir vitamina D, importante no auxílio da absorção de cálcio pelos ossos e assim fundamental para a manutenção e regeneração óssea, entre outras funções.

 

Insuficiência Renal

Ocorre quando os rins perdem a capacidade de realizar as suas funções básicas.

  • Aguda: Quando a doença surge e progride de forma rápida.

  • Crónica: Deterioração lenta e progressiva da função renal (Doença Renal Crónica – DRC).

 

 
 

Sintomas da Doença Renal

  • Edema das pernas;

  • Falta de ar;

  • Falta de apetite;

  • Náuseas e vómitos;

  • Anemia;

  • Prurido;

  • Ossos frágeis;

  • Sangue “ácido”;

  • Arritmias;

  • Paragem cardíaca.

 

Doença Renal Crónica

A DRC é um problema comum a nível mundial. Estima-se que mais de 850 milhões de indivíduos em todo o mundo sofram de alguma forma de doença renal e os dados estatísticos indicam que este número terá tendência a crescer num futuro próximo. Estima-se que possa ser a 5.ª principal causa de morte em 2040.

Em Portugal, a incidência e prevalência da doença renal é das mais elevadas em todo o mundo. A prevalência da DRC na população portuguesa é de 20,9 % e tanto a sua prevalência como a sua incidência têm sido tendencialmente crescentes no nosso país. Também o número de doentes em diálise tem vindo a aumentar.

Segundo os dados de 2022 da Sociedade Portuguesa de Nefrologia, a incidência de novos doentes a iniciar terapêutica substitutiva da função renal (TSFR) é elevada (240 pmp), sendo que 23,6 % dos doentes têm uma idade inferior a 80 anos.

O mesmo relatório coloca Portugal entre os países europeus com maior prevalência de doentes em TSFR e onde continua a registar-se um aumento na prevalência de doentes em diálise. Entre 2021 e 2022 o aumento foi de 2 %.

A doença renal crónica é uma doença silenciosa. Pode ser quase assintomática até fases muito tardias, o que contribui para a sua subvalorização. O diagnóstico precoce pode modificar a evolução da doença. É ainda um fator de risco para doença cardiovascular.

O seu rastreio é fundamental.

 

Quais são as causas de Doença Renal Crónica?

As causas de DRC são múltiplas: doenças sistémicas, doença urológica, história familiar, doença cardíaca e obesidade. A Diabetes mellitus (DM) e a Hipertensão arterial (HTA) são as causas mais frequentes.


Como prevenir a Doença Renal Crónica?

  1. Adotar um estilo de vida saudável:

    • Reduzir o consumo de sal;

    • Reduzir o consumo de alimentos ricos em gordura;

    • Não fumar;

    • Evitar bebidas alcoólicas.

  2. Manter a atividade física regular.

  3. Beber água:

    • Em média, entre 1 L a 1,5 L de água por dia, exceto se contraindicado;

    • Evitar a desidratação.

  4. Não tomar medicamentos sem prescrição médica (não se automedicar).

  5. Evitar a toma de anti-inflamatórios não esteroides.

  6. Manter controlada a DM:

    • A nefropatia por DM atinge 20 % a 40 % dos doentes diabéticos.

    • É a principal causa de DRC terminal na Europa.

    • Internacionalmente, os dados indicam que os países com maior percentagem de DM como causa da DRC apresentam maior incidência de novos doentes a iniciar TSFR, segundo o relatório da Sociedade Portuguesa de Nefrologia.

  7. Manter controlada a tensão arterial:

    • O tratamento da HTA atrasa a progressão para DRC em estadio terminal.

  8. Evitar consumo excessivo de sal:

    • Aumento do risco de HTA e outras doenças cardiovasculares.

    • Maior retenção de líquidos pelo organismo.

    • Recomendada a ingestão de < 5 gramas por dia de sal (= uma colher de café).

  9. Manter consultas regulares com o médico assistente:

    • Rastreio de doença renal uma vez por ano (ou antes, se se justificar).

    • Análises de sangue com ureia e creatinina sérica.

    • Análise sumária de urina.

A correção de causas reversíveis e o controlo de fatores de risco pode evitar o agravamento progressivo e irreversível da função renal.

 
 

 

O que é a Nefrologia? Qual é a diferença entre Nefrologia e Urologia?

A Nefrologia é a especialidade que se dedica ao tratamento médico das doenças do rim. O Nefrologista é o responsável pelo diagnóstico e tratamento das patologias do rim.

A Urologia é a especialidade cirúrgica que se dedica ao diagnóstico e tratamento das doenças do aparelho urinário em ambos os géneros e das doenças do aparelho genital e reprodutor masculino.

 

Qual é o papel do Nefrologista?

  • Esclarecer a causa da doença renal, quando possível (análises, ecografia renal, biopsia renal).

  • Identificar e tratar causas reversíveis de doença renal.

  • Atrasar a progressão da doença renal através da correção dos fatores de risco.

  • Identificar e tratar complicações da doença renal (anemia e edemas, por exemplo).

  • Esclarecer as opções de tratamento da doença renal avançada (TSFR, tratamento conservador).

  • Preparar o doente para a diálise (referenciar a consultas de preparação do acesso para diálise).

  • Acompanhar o doente em tratamento conservador (apoio dos cuidados paliativos).

 

 
 

E quando os rins deixam de funcionar?

Quando a DRC evolui para Doença Renal em estadio terminal existem duas técnicas substitutivas da função renal diferentes: a Hemodiálise e a Diálise Peritoneal.

No caso de se optar por não escolher nenhuma delas, é possível o seguimento em consulta de tratamento conservador.


Manter-se informado e esclarecido é o primeiro passo na prevenção da Doença Renal que, pelo seu caris silencioso, pede a cada um de nós e a toda a comunidade especial atenção para que num futuro próximo possamos melhorar as estatísticas da doença e, acima de tudo, melhorar a saúde de todos e a qualidade de vida dos que lidam com esta doença.


 

Ana Piedade - Interna de formação específica de Nefrologia



Bibliografia

  • Galvão, A. (2022). Evolução temporal da incidência da DRC em TSFR. Implicações Clínico-Epidemiológicas. Sociedade Portuguesa de Nefrologia.

  • Kovesdy, C. P. (2022). Epidemiology of chronic kidney disease: an update 2022. Kidney International Supplements (2011), 12(1):7-11. doi: 10.1016/j.kisu.2021.11.003.

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  • Vinhas, J., Aires, I., Batista, C., Branco, P., Brandão, J., Nogueira, R., Raposo, J.F. & Rodrigues, E. (2020).RENA Study: Cross-Sectional Study to Evaluate CKD Prevalence in Portugal. Nephron, 144 (10):479-487. doi: 10.1159/000508678.


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