Bárbara: a esperança até ao novo rim

A história da Bárbara: Acreditar sempre

Há histórias que nos tocam pela força com que são vividas. Histórias que nos lembram que, mesmo nos momentos mais difíceis, é possível encontrar luz, propósito e gratidão. Esta é uma dessas histórias.

Ao longo das próximas linhas, vais conhecer uma mulher que transformou a dor em esperança, e os desafios em inspiração. Uma história real, contada na primeira pessoa, que nos convida a parar, refletir ... e acreditar.

 

Conheces a história da Bárbara?

Chamo-me Bárbara Marques, tenho 41 anos, sou aromaterapeuta e fundadora da página Sonhos Azuis e Brancos no Facebook e Instagram – um cantinho que criei há 12 anos, quando ainda estava grávida do meu primeiro filho.

Sou doente renal crónica desde criança, e esta é a minha história: marcada por desafios ... mas também por muita esperança.

Nasci com refluxo urinário e, desde muito pequena, tive de lidar com infeções urinárias recorrentes. Aos 7 anos fui operada, o que melhorou bastante a minha saúde, mas os rins continuaram frágeis, obrigando-me a consultas e exames regulares.

Na adolescência, enfrentei uma nova prova: um agravamento súbito da função renal obrigou-me a ser internada e a iniciar um tratamento pesado para a minha idade. Nessa altura, foi-me também diagnosticado hipotiroidismo.

Apesar de tudo, consegui seguir em frente e manter uma vida relativamente normal, sempre com acompanhamento médico.

 

O desafio da doença e o sonho de ser mãe

Quando sonhei ser mãe, sabia que precisava de me preparar bem para o esforço que o meu corpo teria de suportar. Depois do nascimento do meu primeiro filho, o rim ressentiu-se ... mas resistiu.

Na segunda gravidez, porém, a situação complicou-se: precisei de ser internada às 30 semanas para tentar segurar o bebé. Consegui chegar às 33 semanas, e ele nasceu prematuro, a precisar de cuidados neonatais.

Dois dias depois, fui transferida para outro hospital, longe do meu recém-nascido ... e longe do meu menino mais velho, que só tinha 3 anos. Custou-me imenso, mas teve de ser: era preciso iniciar a hemodiálise para salvar a minha vida.

Foram dias muito duros, difíceis de descrever. Lembro-me da primeira noite a chorar, a pensar que a minha vida nunca mais seria igual. E não foi. Mas, aos poucos, fui-me adaptando à nova rotina, encontrando forças onde pensava não ter.

E nunca estive sozinha: o meu marido esteve sempre ao meu lado, incansável; a minha mãe foi fundamental, sempre “por nossa conta”; o meu pai e os meus sogros foram uma ajuda enorme no dia a dia. Eles ajudaram-me a cuidar dos meus filhos e da casa, apoiando-nos em tudo o que precisávamos, sem nunca nos deixarem sentir desamparados. A eles devo muito desta caminhada.

 

Hemodiálise e esperança

Foram 6 anos e 3 meses de hemodiálise, sempre a repetir baixinho para mim mesma: “Tudo vai correr bem.” E todos os dias escrevia num caderno preto: “Gratidão pela minha cura renal.”

No dia 22 de junho de 2023, num gesto de fé, levei uma flor branca ao Hospital de São João e pedi, em silêncio, que chegasse o meu transplante. Dois meses depois, a 22 de agosto, recebi a tão esperada chamada ... enquanto estava na praia.

Chorámos todos juntos – eu, o meu marido e os nossos filhos – sem saber o que o dia seguinte nos reservava, mas com a certeza de que estávamos juntos.

 

Da esperança ao transplante renal

No dia 23 de agosto de 2023, fui transplantada. Graças ao Serviço Nacional de Saúde e ao programa de dádiva de órgãos, a minha vida foi salva com esta dádiva de amor.

Desde então, o meu novo rim funciona como um verdadeiro Ferrari e acredito que assim continuará.

O que me salvou ao longo deste caminho foi acreditar e ter fé. Nunca perder a esperança e ser grata, todos os dias, pelo que a vida ainda tinha para mim.

Hoje, só posso dizer: “Sou profundamente grata à vida, à pessoa que me deu esta nova oportunidade, à minha família, aos profissionais de saúde que me acompanharam ... e a todos os que me amaram e me ajudaram a não desistir.”

No dia 23 de agosto deste ano, já celebro dois anos do meu transplante renal. E cada novo dia é uma oportunidade para agradecer o meu renascimento.



Bárbara Manero Marques