Cuidar de mim... Cuidar de ti!
Atualmente, vivemos numa sociedade em que os estímulos são uma constante e as múltiplas tarefas constituem uma rotina diária. Os dias são compostos por inúmeras diligências profissionais, da esfera pessoal e familiar que têm de ser feitas e, quando não o são, ficam acumuladas dentro de cada um de nós, provocando sentimentos de culpa, de frustração, de zanga, etc. O trabalho é cada vez mais exigente e com pressões constantes face aos recursos pessoais e isto acaba por gerar stress.
Este é considerado um grave problema social e de saúde pública no século XXI, podendo ter consequências a diferentes níveis, nomeadamente, organizacionais e pessoais. Estas consequências revelam-se tanto ao nível intelectual como nas relações sociais e no respetivo comportamento organizacional, levando a elevadíssimos custos para os indivíduos e para as próprias empresas.
O que é o stress?
O stress entrou nas nossas vidas pelos diferentes media e é alvo de investigação científica e interdisciplinar há vários anos. Mas afinal o que é o stress? Este termo provém do verbo latino stringo, stringere, strinxi, strictum que significa apertar, comprimir e restringir. Esta expressão ganha novo significado a partir do século XIX quando passa a incluir a dimensão humana, quando até outrora este estava confinado ao que acontecia no mundo físico.
Na visão contemporânea, o stress é visto como uma resposta necessária e adaptativa encontrando-se presente em todas as espécies com cérebro, culturas humanas, idades e em ambos os géneros.
Tipos de stress
São distinguidos dois tipos de stress, um considerado positivo, chamado “eustress”, que acrescenta excitação e desafio à vida das pessoas, proporciona felicidade, saúde e longevidade e o “distress” que acontece quando uma tensão não é aliviada e que conduz à destruição, à doença e à morte prematura. O stress excessivo torna-se prejudicial para a saúde e bem-estar dos indivíduos.
Consequências negativas do stress
Relembra emoções negativas perturbadoras.
Potencia o desenvolvimento ou agravamento de uma doença física e/ou psíquica.
Tem uma influência negativa na família, trabalho e vida social.
Ocasiona um maior número de acidentes de trabalho ou rodoviários.
Dificulta os processos de tomada de decisão.
Tem repercussões negativas em diferentes aspetos da vida de natureza económica.
Induz alterações do sono, vida sexual, metabolismo e sistema imunitário.
Aprender a lidar com o stress - autocuidado
Como vimos anteriormente, o stress está presente nas diferentes sociedades humanas e, por isso, há a necessidade de aprender a lidar com ele através da utilização de diferentes recursos e estratégias com evidência científica, nomeadamente, modificar as vulnerabilidades do indivíduo, aprender a ter uma comunicação mais autoafirmativa, aprender exercícios de relaxamento, etc..
O leitor perguntar-se-á: “Mas como faço isso na minha vida?”. O primeiro passo é PARAR alguns minutos por dia para cuidarmos de nós próprios. Como diz David Kundtz no seu livro Parar – Como parar quando temos de continuar: Parar é uma técnica simples e fácil de “não fazer nada”, na medida do possível, durante um determinado período de tempo (um segundo ou um mês), para recordarmos quem somos e conseguirmos prosseguir de uma forma mais calma e perspetivada.
Este comportamento de paragem permite olhar para nós e vermos quais são as nossas necessidades e como as vamos gerir durante o nosso dia, semana ou mês. É preciso aprendermos a cuidar de nós, a isto chama-se autocuidado. Algo que devia ser aprendido desde a infância e reforçado em contexto escolar.
O ato de cuidar está presente na vida dos seres humanos desde o nascimento e torna-se vital para a sobrevivência da espécie. Quando não se cuida promove-se o desequilíbrio que pode conduzir à morte.
É muito importante incorporar atividades de autocuidado na rotina diária, seguem-se alguns exemplos, como fazer uma caminhada, socializar com os amigos, dedicar tempo para cuidar do corpo e também da mente, ter tempo para descansar, etc. Sugiro um exercício para concretizar este aspeto.
Proponho o seguinte exercício:
Escreva atividades de autocuidado que considere interessante em vir a desenvolver a curto prazo (próxima semana).
Coloque por ordem de interesse as mesmas e escolha as duas primeiras dessa lista para incorporar na sua rotina diária.
Será importante verificar o impacto destas atividades ao nível do seu bem-estar físico e psicológico ao longo do tempo, para reajustar se for necessário.
Conclusão
O autocuidado serve para recarregarmos baterias, tal como fazemos com a bateria do nosso telemóvel para que ele fique operacional. Quando dedicamos algum tempo a nós mesmos, alimentando o corpo e a mente de forma profícua, estamos a investir em saúde e bem-estar.
Tal como o conceito de stress, o bem-estar está nas “bocas do mundo” moderno. Queremos todos sentir bem-estar e procuramo-lo em diferentes sítios. E fazê-lo porquê? Os investigadores dizem que este constructo, que integra saúde mental (mente) e saúde física (corpo), tem um papel importante na prevenção de doenças e promoção da saúde.
Embora a definição de bem-estar seja ainda elusiva, existe um consenso geral de que, no mínimo, o bem-estar inclui:
a presença de emoções e humores positivos (por exemplo, contentamento e felicidade);
a ausência de emoções negativas (ansiedade);
a satisfação com a vida;
a satisfação e o funcionamento positivo.
Em termos simples, o bem-estar pode ser descrito como um olhar positivo sobre a vida e a sensação de se sentir bem.
É importante salientar que o bem-estar é subjetivo e pode ser conquistado através de diversas atividades e experiências. Atualmente, a escolha é muita e diversificada, desde a massagem, meditação, atividades na natureza, retiros, etc.
Cabe a cada um encontrar aquilo que lhe dá mais vitalidade e equilíbrio nas diferentes áreas da sua vida. A minha sugestão é que reserve alguns momentos do seu dia a fazer algo que lhe proporcione uma sensação de leveza e de bem-estar na sua vida. O seu futuro “Eu” agradecerá quando colher os frutos desta sementeira, porque como Eleanor Brown tão bem escreveu: O autocuidado não é egoísta. Não podemos dar-nos estando vazios.
Andreia Cardoso - Psicóloga clínica, fundadora do projeto APESSOAR
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