Jonah Lomu: um fenómeno no desporto, uma inspiração na vida

A poucos dias de celebrarmos o Dia Mundial da Atividade Física, lembramos um desportista que abalou a comunidade do desporto com a sua partida. Transplantado renal desde 2004, tinha muito em comum com os que enfrentam a doença renal e a muitos servirá de exemplo.  

O sucesso de Jonah Lomu assemelhou-se ao das estrelas de Hollywood. Para a posteridade fica a sua estátua de cera no Museu Madame Tussauds, em Londres, onde divide o espaço com algumas dessas celebridades.

No meio das estrelas, Jonah Lomu distingue-se pelo porte e pelo equipamento negro, característico dos All Blacks, a seleção neozelandesa de Rugby Union pela qual Lomu jogou tantas e tantas vezes e protagonizou momentos que tão depressa não serão esquecidos pelos apreciadores da modalidade.

Com 1,95 m de altura e 120 kg, tinha um porte atlético que não deixava ninguém indiferente. Percorrer 100 metros em menos de 11 segundos era uma das suas proezas, mas também a facilidade com que marcava tries (forma de pontuação máxima do rugby). Só em campeonatos do Mundo marcou 15 tries, um recorde absoluto da competição.

Quem não conhece o jogador, talvez se lembre do seu personagem no filme Invictus, como capitão da equipa que defrontou a África do Sul na final do Mundial de 1995, interpretado pelo ex-jogador Isaac Feau'nati. Lomu não levou o troféu para a Nova Zelândia, mas nem por isso se entristeceu. Reconheceu que existem momentos em que valores mais altos se levantam.

"Se tivéssemos ganhado, as pessoas não se recordariam como o rugby mudou uma nação", disse numa entrevista em relação ao mítico jogo em que a Nova Zelândia perdeu o título e em que a África do Sul não só ganhou o campeonato, mas também o alento, a força e o sentido de união que precisava no pós-apartheid.

Em 2009, ano em que o filme foi lançado, já Lomu tinha abandonado o desporto. A retirada do rugby deu-se em 2007, devido a uma doença renal rara que pôs um ponto final a uma carreira brilhante.

O jogador neozelandês foi diagnosticado com Síndrome Nefrótica, em 1999, que acabou por evoluir para doença renal crónica. Mas o diagnóstico não o fez desistir. Perante a possibilidade de ficar numa cadeira de rodas, devido à insuficiência renal que lhe provocara lesões nos pés e nas pernas, iniciou tratamentos de hemodiálise, recuperou e continuou a jogar.

Em 2004, era evidente a escassez do tratamento e foi necessário avançar para o transplante. Sem deitar a toalha ao chão, conseguiu autorização das comissões antidoping para competir enquanto tomava medicação que evitava a rejeição do órgão transplantado e continuou a viver o sonho no desporto.

Ainda foi convocado para o Mundial de 2007, mas a saúde não lhe permitiria chegar até lá. Retirou-se como guerreiro que sempre foi e permaneceu ligado ao desporto a outros níveis.

Sete anos depois de ter recebido o primeiro rim, chegou a notícia de que seria necessário novo transplante. A saúde e o seu porte atlético estavam em fase de declínio. Chegou a perder 30 kg.

Apesar de tudo, era ainda uma inspiração para os mais jovens e um ídolo para os amantes do rugby. Enquanto esperava pelo transplante, acompanhava a nova geração dos All Blacks nas suas deslocações e habituou-se a fazer tours pelas clínicas de hemodiálise dos locais por onde passava. Cerca de 25% dos seus dias eram passados em tratamento.

Foi em Inglaterra, numa dessas deslocações, que Jonah Lomu passou os seus últimos dias. Aos 40 anos, o jogador faleceu subitamente em Auckland, Nova Zelândia, após ter regressado de Inglaterra, onde acompanhou mais uma caminhada dos All Blacks rumo à vitória no mundial.

A família e a comunidade do rugby ficaram devastadas com esta perda, verdadeiramente inesperada, e foram muitos os que fizeram questão de fazer uma última homenagem àquele que foi considerado a primeira estrela mundial do rugby.

Quem sabe um dia, esta estrela do desporto e homem inspirador seja retratado mais uma vez no cinema, desta vez para imortalizar a história de lutas e conquistas que foi a sua vida.

Vanessa Colaço - Cofundadora do Pelo Rim

Veja também:

• Síndrome nefrótico da nefrologista Ana Farinha.
• Exercício físico na doença renal crónica da nefrologista Ana Farinha.

Imagem: Jonah Lomu de Global Sports Forum sob licença CC BY-ND 2.0