Exercício físico e doença renal? Sim! E recomenda-se
Quando o doente inicia um programa de diálise surgem alterações significativas na vida quotidiana associadas à doença e ao tratamento, que habitualmente influem na redução da atividade física e a um maior sedentarismo. Estas alterações manifestam-se a nível psicológico com sentimentos de tristeza e/ou depressivos, alterações na dinâmica familiar, sociais e de trabalho associadas a condicionantes da própria doença como anemia, fraqueza/cansaço, toma regular da medicação, hipertensão ou hipotensão, entre outras.
A prática de exercício físico regular deve ser mantida dentro das possibilidades do doente de forma a prevenir as complicações do sedentarismo e as associadas à doença e ao envelhecimento, que neste grupo se instalam mais precocemente.
Dez benefícios fisiológicos, funcionais e psicológicos da atividade física
Melhora a oxigenação das células.
Melhora o controlo da tensão arterial com redução no recurso a medicação anti-hipertensiva.
Diminuem os depósitos de gordura e os triglicéridos.
Melhora o controlo glicémico, indicado para diabéticos.
Melhora a anemia.
Melhora o funcionamento e a força muscular.
Diminui a ansiedade e a fadiga.
Diminuem os sentimentos depressivos.
Melhora a qualidade do sono.
Aumenta a vitalidade.
Condições a assegurar antes de iniciar um programa de exercício regular
Encontra-se bem dialisado.
Efetua uma alimentação com dose adequada de proteínas (carne, peixe, leite, ovos).
O peso interdialítico é adequado (não há excesso de peso entre diálises).
A tensão arterial encontra-se controlada.
Não existe contraindicação médica.
Existem vários tipos de atividade desportiva, devendo a escolha adequar-se ao gosto e às capacidades e limitações de cada um. Deve ser evitado o desporto de contacto físico e esforço violento, tais como boxe ou karaté. Caminhada, atletismo, dança aeróbica, natação, hidroginástica e ciclismo são alternativas adequadas. No caso de possuir um catéter, os desportos aquáticos estão contraindicados.
Frequência do exercício
O exercício deve ser praticado duas a três vezes por semana em dias alternados, entre 30 a 60 minutos.
O tempo de exercício deve ser gerido pelo próprio de acordo com a sua capacidade, podendo ser aumentado gradualmente. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, 30 minutos diariamente são suficientes para prevenir complicações associadas ao sedentarismo e à inatividade.
O exercício praticado deve ser confortável e produzir bem estar.
No final de cada exercício é sempre adequado efetuar alongamentos ou relaxamento.
Pode ser suficiente a realização de alguns exercícios respiratórios que promovam o retorno à serenidade e induzam sensação de bem-estar.
A evitar
Exercício imediatamente após as refeições. Aguardar pelo menos uma hora após a refeição.
Desidratação. Ter água consigo.
Exercício em jejum. Ter sempre um alimento consigo. Pode ser uma peça de fruta.
Horas de muito calor, particularmente se for realizado ao ar livre.
Exaustão. Deve parar caso sinta cansaço, dores no peito, dificuldade em respirar, coração muito acelerado, cãibras, enjoos ou tonturas.
Em caso de febre, mal estar ou alteração da condição clínica, não praticar exercício e aconselhar-se junto do seu médico e equipa de saúde.
A atividade física regular é aconselhada para a população em geral e os doentes renais não devem ser exceção. A prática regular de exercício e atividades agradáveis promovem não só o bem-estar físico como a melhoria da saúde mental.
Atualmente, existem diversas alternativas disponíveis na comunidade, desde centros de fitness e associações recreativas, onde é possível praticar atividades em grupo ou individualmente, de acordo com o gosto e as capacidades.
Em algumas clínicas de hemodiálise do país e mais marcadamente em países como Canadá, Inglaterra, França, Holanda, algumas regiões do Brasil, entre outros, é possível realizar exercício físico antes e/ou durante a sessão de hemodiálise.
O exercício durante a sessão de hemodiálise designa-se exercício físico intradialítico.Uma das práticas consiste na realização de exercício com recurso a pedaleiras, sendo realizado 30 a 60 minutos de pedaleira durante o início da sessão de hemodiálise, três vezes por semana. É considerada uma prática segura, fácil, sendo de valorizar que se encontra vigiado por um profissional de saúde durante todo o tempo da atividade. Existem já vários estudos que reforçam os seus benefícios, idênticos aos descritos acima, sendo de salientar a melhoria da eficácia e da eficiência da hemodiálise.
Seria importante promover este tipo de atividade nas unidades onde são efetuados tratamentos dialíticos aos doentes, considerando sempre a avaliação individual de cada um e a sua condição clínica.
O envolvimento da equipa de saúde na promoção destas iniciativas é fundamental, bem como o esclarecimento e acompanhamento adequado do doente antes e durante este tipo de atividade.
Raquel Videira - Enfermeira
Bibliografia:
Centrodial – Centro de diálise de S. João da Madeira. Manual para insuficientes renais 2002.
Raquel Videira. Tese de Mestrado - Benefícios do exercício físico intradialítico no doente renal crónico em programa regular de hemodiálise. Maio 2014.
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