Equipamento inovador ajuda a otimizar transplantes no CHUC
O Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) é o primeiro centro de transplantação português a usar um equipamento para perfusão hipotérmica oxigenada de fígado e rim. Este dispositivo médico apresenta benefícios muito importantes, como a melhoria da qualidade dos enxertos, a função hepática pós-transplante, a sobrevivência de enxertos e recetores e a segurança da transplantação.
Este dispositivo permite maximizar a utilização de órgãos para transplante, utilizar órgãos que habitualmente até podem ser recusados por serem de dadores marginais ou critérios expandidos, como é o caso de dadores idosos, de coração parado ou com muitas comorbilidades ou até com algumas alterações analíticas”, explicou Dulce Diogo, coordenadora da Unidade de Transplantação Hepática do CHUC.
As vantagens desta técnica também se fazem sentir após o transplante. No pós-transplante, a técnica de perfusão hipotérmica oxigenada reduz as taxas de retransplante na primeira semana e o fígado começa logo a funcionar após o transplante, o que é determinante, principalmente nos doentes com situações clínicas mais graves.
O dispositivo também permite reduzir de forma significativa a taxa de complicações biliares, que são, presentemente, uma das principais complicações tardias do pós-transplante hepático e que levam a um aumento da morbimortalidade dos recetores.
Segundo Nuno Devesa, diretor clínico, o novo equipamento vai permitir melhorar as transplantações e os números muitíssimo bons do CHUC, numa área que é uma bandeira.
Com este equipamento médico, o CHUC tem como objetivo aumentar a taxa de aproveitamento dos órgãos, cujos dadores têm, atualmente, uma média de 60 anos, quando há vinte anos atrás era de 32 anos.
Estes avanços tecnológicos são promissores em termos de impacto direto na vida e qualidade de vida dos transplantados, assim como no sucesso e volume das intervenções ao nível nacional.
Dados em Portugal
Os dados relativos de janeiro a dezembro de 2019 foram apresentados no Relatório da Doação e Transplantação de Órgãos – Atividade Nacional pela Coordenação Nacional da Transplantação.
Tipologia dos dadores
Importa destacar os resultados positivos em termos do aumento do número de dadores vivos.
Dadores falecidos
Trezentos e quarenta e sete dadores falecidos em 2019, mais três dadores do que em 2018 (1 %).
Causas de morte dos dadores (%)
A maioria das mortes é por acidente vascular cerebral (AVC) (239 em 2019 e 232 em 2018).
Os resultados são semelhantes nos dois anos.
Dadores falecidos por região
Com exceção do CHU de S. João e do CHULN, nos restantes centros de colheita e transplantação, verificou-se uma diminuição do número de dadores falecidos.
Órgãos colhidos
Novecentos e quarenta e sete órgãos colhidos em 2019, mais 23 órgãos colhidos do que em 2018 (2 %). A idade média dos dadores é de 57 anos.
Taxa de utilização dos órgãos (%)
Em 2019, houve 947 órgãos colhidos e 795 transplantados.
A generalização da utilização de equipamentos para perfusão hipotérmica oxigenada de fígado e rim pode fazer crescer a taxa de utilização para números ainda mais satisfatórios.
Transplantação de órgãos
Oitocentos e setenta e oito órgãos transplantados em 2019, mais 49 órgãos transplantados do que em 2018 (6 %).
Também o número de órgãos transplantados poderá vir a crescer, com a colheita a ser alargada a outros tipos de dadores ao utilizar o procedimento de perfusão hipotérmica oxigenada.
Transplantação nacional
Das oito instituições listadas, apenas no CHU de S. João, no CHUC e no CHULN se verificou um aumento do número de transplantes.
Transplantação renal (dador vivo)
À semelhança do verificado no ponto anterior, apenas no CHU de S. João, no CHUC e no CHULN se verificou um aumento do número de transplantes renais a partir de dador vivo.
Transplantação nacional
Com exceção da transplantação pancreática e cardíaca, verificou-se um aumento considerável no número de transplantes de pulmão, fígado e rim.
Os dados publicados reforçam a falta de consistência no aumento dos números da transplantação em Portugal, com várias oscilações ao longo dos últimos anos. O transplante renal continua a ser aquele com maior volume e o transplante pancreático com menor. O transplante pulmonar foi aquele que, nos últimos 9 anos, registou uma tendência mais robusta de crescimento.
Os avanços tecnológicos são um sinal de esperança que, idealmente, acabam por ter um impacto positivo nos dados nacionais da transplantação. Quanto mais rápidos e eficazes formos a implementar e expandir procedimentos e equipamentos que aumentam a eficácia dos transplantes, maior o acesso, longevidade e qualidade de vida daqueles que aguardam pelo transplante.
Pelo Rim
Bibliografia:
Coordenação Nacional da Transplantação. 2019. Doação e transplantação de órgãos – atividade nacional – janeiro a dezembro 2019.
Tecnohospital. 2020. CHUC adquiriu novo dispositivo para transplante.