Doar um rim - perguntas e respostas

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Porquê doar um rim?

A doença renal crónica pode ser uma doença devastadora para a pessoa que sofre dela e para a sua família. A diálise, apesar de permitir tratar algumas das complicações desta doença, não representa uma cura e impõe muitas limitações na qualidade de vida. A transplantação de um rim pode melhorar a qualidade de vida dos doentes renais, sendo ainda a modalidade de tratamento da doença renal que maior sobrevida (quantidade de vida) oferece ao doente. Mas esperar por um rim de um dador cadáver pode levar muitos anos. Assim, a hipótese de ter um rim de um familiar ou amigo pode obviar todas estas contrariedades.

 

Quem pode doar um rim?

Para doar um rim, não basta a boa vontade. 

O primeiro pressuposto é ser compatível. Para que o organismo do doente não rejeite o rim doado, é fundamental que o grupo sanguíneo seja o mesmo ou compatível.

O segundo pressuposto é que o dador seja saudável. Algumas doenças predispõem à doença renal e é fundamental assegurar que a doação NÃO vai prejudicar o dador e que este poderá viver de uma forma saudável apenas com um rim.

 

Qual o percurso para a doação de um rim?

A terceira etapa é o par dador-recetor ser avaliado por uma equipa multidisciplinar que garantem o bem-estar físico e mental do dador, bem como a gratuitidade do processo (em Portugal, as doações de tecidos e órgãos não podem se comercializadas). Para garantir a saúde do dador, são-lhe feitos vários exames. 

Depois de asseguradas as melhores condições do par dador e recetor, é marcado o dia da cirurgia. Neste dia, o par segue para o bloco, onde é tirado o rim ao dador e colocado de imediato no recetor.

 

O que acontece depois de doar um rim?

Os cuidados que o dador recebe após a cirurgia são semelhantes ao que acontece em qualquer cirurgia major: cuidados com a ferida e medicação para a dor. A alta ocorre cerca de 5 a 7 dias após a cirurgia, se tudo tiver corrido como previsto. Após a alta, o dador tem direito a ficar de “baixa” pelo tempo considerado adequado. TODOS os dadores mantêm acompanhamento regular pela equipa de transplantação que acompanhará o dador, assegurando que mantem a saúde de que dispunha antes. Todos estes cuidados são gratuitos.

 

Quais os benefícios que tem o dador pelo fato de doar um rim?

Doar um rim é doar vida, uma segunda oportunidade a uma pessoa doente. Habitualmente, um ato de generosidade e de amor desta envergadura serve para aproximar o dador e o recetor. Pessoas que doaram um rim referem bem-estar, sentimentos de utilidade e de fortalecimento das relações com o recetor. Não existem quaisquer benefícios económicos neste processo, mas um enriquecimento emocional.

 

Que riscos implicam a doação?

A doação de um rim implica uma grande cirurgia e qualquer cirurgia tem riscos. Os riscos estão relacionados com o processo de anestesia, de remover o rim e com as complicações pós-operatórias (tais como: dor e infeção). A avaliação exaustiva que se faz do dador no período antes da transplantação pressupõe minimizar e antecipar todos estes riscos.

 

O dador pode mudar de ideias ou arrepender-se?

Mudar de ideias é humano. Doar uma parte de nós pode ser assustador. O tempo de condução de avaliação e de todo o processo de doação pressupõe, entre outras coisas, assegurar que o dador tem tempo de amadurecer a sua opção e voltar atrás. Nenhum dador se deve sentir constrangido de repensar a sua decisão e nenhum recetor deve cobrar uma alteração de planos. Afinal, este é um passo decisivo na vida, sem volta atrás. Muitas vezes, basta pôr-se no lugar do outro para perceber uma decisão.

 

Com quem podem ser tiradas as dúvidas?

Todos os elementos envolvidos na equipa de transplantação (bem como o Nefrologista assistente do doente) estarão disponíveis para tirar dúvidas. A equipa inclui médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e todos os elementos considerados necessários para apoiar o par dador e recetor. O mais importante é perceber que não há dúvidas sem cabimento. As dúvidas devem ser respondidas. É um direito dos envolvidos e um dever da equipa.

 

Acima da decisão clínico-científica do benefício da doação para o recetor, existe uma ligação de amor, de partilha, de entreajuda que leva um ser humano a dar parte de si a alguém que ama, sem esperar nada em troca. Abdicar de um pouco de si para aliviar o sofrimento de um ente querido é uma escolha nobre, um ato de infinita generosidade, de altruísmo que será partilhado e apoiado por toda a equipa de transplantação. Não será simples, não será fácil, mas será muito reconfortante.

Ana Farinha - Nefrologista 

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Imagem de Aaron Burden via Unsplash