Modalidades de tratamento de substituição da função renal
Para um doente renal em fase avançada da doença, designada por fase terminal da insuficiência renal crónica ou estádio 5 da doença, coloca-se a decisão sobre a terapia de substituição da função renal a optar, uma vez que os rins perderam a função de filtrar o sangue, sendo essa perda total e irreversível, incompatível com a vida.1,2
Para além do impacto da notícia, a eleição da modalidade de tratamento pode-se tornar algo angustiante se o utente não for devidamente preparado, apoiado e educado. A ajuda e acompanhamento dos profissionais de saúde adequados pode facilitar bastante este processo, no sentido de possibilitar ao utente escolher conscientemente pela melhor modalidade para si e possibilitar-lhe uma melhor qualidade de vida.
Existem fundamentalmente três modalidades de tratamento:
- hemodiálise;
- diálise peritoneal;
- transplante renal.
O tratamento médico conservador está incluído, embora se prenda a casos excecionais. Previamente à escolha, é obrigatório, segundo a norma da DGS 017/2011, a realização de uma consulta de esclarecimento, onde devem estar presentes pelo menos um nefrologista, um enfermeiro, um assistente social e um nutricionista.1
Hemodiálise
Utilização de um dialisador como membrana artificial para filtrar o sangue.
O monitor de hemodiálise bombeia o sangue que será filtrado e regressa ao doente através de um acesso vascular construído cirurgicamente (fístula, prótese ou cateter).
Vantagens:
- Diálise eficaz.
- Efetuada três vezes por semana, geralmente durante 4 horas.
- Acompanhamento médico e de enfermagem três vezes por semana.
- Realizada em unidades de hemodiálise ou hospitais.
Desvantagens:
- Necessidade de um bom acesso vascular.
- Necessidade de anticoagulação durante o tratamento.
- Horários dos tratamentos condicionados à disponibilidade do local.
- Nível de responsabilidade elevado no cumprimento da dieta e na restrição hídrica (líquidos).
Diálise Peritoneal
Diálise realizada através de um cateter que é colocado na cavidade peritoneal, na parede do abdómen, por onde é inserido o soluto dialisante e posteriormente drenado.
Vantagens:
- Diálise eficaz e fisiológica.
- Efetuada no domicílio pelo próprio utente.
- Mantém a função renal residual.
- Menor restrição dietética.
- Ausência de dor.
- Sem necessidade de punção do acesso vascular.
Desvantagens:
- Necessidade de um catéter peritoneal.
- Grande responsabilidade no cumprimento das regras de higiene, limpeza e execução correta da técnica.
- Necessário local de armazenamento do material no domicílio (sacos de dialisante, cicladora).
- Efetuada todos os dias: quatro vezes por dia (30 minutos) na técnica manual; 1 vez por dia no caso da DPA - diálise peritoneal automática - (7 a 8 horas).
Transplante Renal
Consiste na colocação no abdómen de um rim de um dador cadáver ou de um dador vivo, realizada por uma equipa cirúrgica especializada, num bloco operatório.
Vantagens:
- Sem necessidade de diálise (peritoneal ou hemodiálise).
- Maior qualidade de vida e maior esperança de vida.
- Sem restrição dietética nem condicionantes da hemodiálise.
Desvantagens:
- Cumprimento rigoroso da toma dos medicamentos imunossupressores.
- Efeitos secundários associados à toma dos imunossupressores e possibilidade de rejeição do órgão ou infeções oportunistas.
Tratamento Médico Conservador
Consiste em medidas terapêuticas não invasivas.
O tratamento médico conservador não é uma alternativa aos outros tratamentos.
Está apenas indicado em situações graves, de mau prognóstico de vida, ou na impossibilidade de efetuar outro tratamento.
Fonte: Norma da Direção Geral da Saúde nº 017/2011 de 28/09/2011, atualizada a 14/06/2012.
Conclusão
- O programa de educação do doente renal é um processo contínuo e a informação deve ser gradual e gerida de acordo com cada pessoa.
- A modalidade de tratamento optada inicialmente não tem que ser estática, podendo, em função da evolução da doença ou capacitação do utente, surgir uma alternativa à modalidade escolhida como, por exemplo, iniciar hemodiálise e realizar transplante renal posterior ou iniciar hemodiálise em clínica e mais tarde realizar hemodiálise domiciliária ou até diálise peritoneal.
- Muitos utentes iniciam diálise peritoneal e só anos mais tarde hemodiálise quando se torna necessário, por falência da membrana peritoneal.
- Existem várias opções possibilitando maior ou menor autonomia, com vantagens e desvantagens inerentes.
- O importante é o utente ser capaz de aceitar o melhor para a sua condição atual e sentir-se devidamente apoiado e esclarecido, sendo fulcral o apoio familiar, social e o acompanhamento pela equipa de saúde.
Raquel Videira - Enfermeira
Bibliografia:
- Norma da Direção Geral da Saúde nº 017/2011 de 28/09/2011, atualizada a 14/06/2012, acedido a 10 de setembro de 2015 em http://www.dgs.pt
- Manual para insuficientes renais. Centrodial – Centro de diálise de S. João da Madeira, 2002.Monteiro, C., Marques, F.B. e Ribeiro, C.F. (2007). Interações medicamentosas como causa de iatrogenia evitável. Rev Port Clin Geral. 23:63-73.
Imagens: Kidney transplant surgery de Tareq Salahuddin sob licença CC BY 2.0