Regresso à diálise
Regresso ao tratamento de substituição da função renal
E quando se passa por todas as fases e se volta ao começo de tudo…
Não há mal que sempre dure, nem bem que se não acabe… e voltam ao de cima o cocktail de sentimentos que estavam arrumados, mas não esquecidos. Emoções que se conhecem tão bem, que se tratam por ‘tu’.
É verdade que uns conseguem ficar transplantados mais tempo que outros, pois a sobrevida de um rim é sempre uma incógnita, pode ser um ano, 10 anos ou 20 anos, mas o regresso à diálise é sempre complicado de aceitar. Há sempre uma recusa e o desejo que dure pelo menos mais um dia, só mais um…
Todos os dias sem tratamento são importantes, essenciais, imprescindíveis, parece que vinte e quatro horas são suficientes para tudo.
Iniciei o texto a dizer o quão difícil é voltar à estaca zero, ver-se novamente dependente de um tratamento que vos rouba tanto tempo, que vos limita o quotidiano, que entra pela vida profissional, pessoal e familiar. Que se mistura com a vossa vida por completo sem pedir permissão, mas não é verdade, não se trata de voltar à estaca zero. Subiram-se alguns degraus na experiência, maturidade, compreensão, aceitação, resiliência, entre tantos outros.
Esta bagagem vai certamente ajudar a que tudo seja vivido de forma diferente, mais calma, serena, pois já não se trata do desconhecido, mas sim do reencontro pouco desejado com o conhecido.
As ‘armas’ para combater a depressão serão outras, a capacidade de contornar a doença também será diferente, mas sei que só por isso não será um mar de rosas. Sim, é pensar nos momentos de fraqueza, que tudo voltou ao mesmo outra vez.
Depois vêm as defesas reforçadas que permitem ver novamente a luz ao fundo do túnel e, em muitos casos, porquê não pensar num novo transplante renal?
Importante mesmo é aceitar e saber conviver com a doença da melhor maneira possível, seja de que forma for, transplantado ou não.
Use a sua vivência, a sua experiência, a sua sabedoria para passar a outros que ainda andam em busca de aceitação, que se mantêm revoltados, que têm dificuldade em lidar com toda essa pressão. Ajude o próximo, a pessoa que está aí do seu lado, que passa pelo mesmo, mas que não tem coragem de mostrar a sua fragilidade, de gritar por socorro. Encontre, dentro do seu problema, uma forma de ajudar os outros, pois esta é também uma boa forma de terapia.
Gabriela Paim - Assistente social
Imagem: Light and darkness de Jonathan Emmanuel Flores Tarello sob licença CC BY-NC-ND 2.0