Sónia, a história de uma cura quase milagrosa
Chamo-me Sónia e fui doente renal.
Tinha 7 anos quando comecei a perder sangue pela urina e após uma ida às urgências do Hospital S. Bernardo, em Setúbal, fiquei internada. O tempo foi passando, vi crianças a entrar e a sair do hospital e o meu caso permanecia por diagnosticar. Como o problema era renal, a decisão da equipa médica foi marcar cirurgia para retirar um rim, porque não estaria a funcionar bem.
Tive a sorte de um dia aparecer um visitante especial que fez a diferença na minha vida: um Nefrologista, o Dr. Pedro Leitão, com grande experiência no tratamento de doentes com síndrome nefrótica.
Este médico tinha vindo ao hospital de S. Bernardo visitar uma amiga que estava de serviço. Esta amiga era cardiologista pediátrica e, sorte a minha, a menina que estava a ser acompanhada por esta médica estava no mesmo quarto que eu. Nesse dia levei pela primeira e última vez uma injeção de penicilina que me deixou totalmente imobilizada (sou alérgica) e não conseguia interagir com ninguém, mas o Dr. Pedro Leitão não conseguiu passar por mim sem se meter comigo e ao ver-me naquele estado interessou-se por mim.
Falou com os meus pais e explicou-lhes que a cirurgia para retirar o rim deveria ser cancelada e finalmente deu-lhes informação sobre a minha doença.
Como o Diretor da ala pediátrica do hospital foi inflexível na decisão de reavaliar o diagnóstico e não autorizou a alta hospitalar, os meus pais não tiveram outra opção: fugi a meio da noite do hospital com a ajuda de uma enfermeira.
No dia seguinte já com o acompanhamento clínico do Dr. Pedro Leitão iniciei a medicação, novo regime alimentar e passei literalmente um ano sem andar, sempre sentada ou deitada, mexendo-me o mínimo possível e com dores reumáticas horríveis devido à medicação. Inchei imenso, ao ponto de ficar irreconhecível. Apesar de ir à escola não podia brincar e tinha imensa vergonha da minha aparência.
Não conhecia nenhuma criança doente renal e não consegui explicar aos meus amigos o que se passava comigo. Sentia-me sozinha.
Um ano depois os resultados das análises não mostravam melhorias significativas, estava na altura de marcar a primeira sessão de hemodiálise. Uma semana antes da sessão, o meu médico pediu para repetirmos as análises. Não sei o que aconteceu, nada fiz de diferente naquela semana, mas as análises estavam todas normais, como se eu nunca tivesse estado doente.
Como nunca se conseguiu explicar a minha cura repentina aos 9 anos, tive acompanhamento médico com exames regulares até aos 18 anos, idade a partir da qual tive “alta” médica.
Sónia Gomes - Corporate Development Manager
Imagem: Miracles CAN happen de M. Westwick sob licença CC BY 2.0