Transplantação Renal: Sinais positivos no meio da incerteza

Transplante-3-e1444168590945.jpg

 

Nas vésperas da comemoração do Dia Europeu da Doação e Transplantação importa olhar para os números e perceber qual a situação atual dos transplantes renais em Portugal.

É verdade que há ainda muito trabalho por fazer em matéria de sensibilização para a doação, porque apesar de em 2009 se ter registado um recorde de transplantes renais no país, com perto de 600 operações realizadas, seguiu-se uma queda do número de transplantes, com uma ligeira recuperação em 2013 e nova descida em 2014, com um total de 448 transplantes renais (394 de dador cadáver e 54 de dador vivo).

Gráfico_Transplantação renal em Portugal
Gráfico_Transplantação renal em Portugal

Apesar da falta de crescimento, assinalam-se alguns pontos extremamente positivos, nomeadamente o aumento do transplante renal enquanto primeiro tratamento substitutivo da função renal, passando dos 9 casos registados em 2013 para 24 em 2014, segundo o Registo de Tratamento da Doença Renal Crónica Terminal da Sociedade Portuguesa de Nefrologia, divulgado no Encontro Renal 2015 realizado no 16 de abril, em Vilamoura.

Apesar da falta de crescimento, assinalam-se alguns pontos extremamente positivos, nomeadamente o aumento do transplante renal enquanto primeiro tratamento substitutivo da função renal.

Por outro lado, o número de novos pacientes em lista de espera para receber um rim quase duplicou em 2014, um aumento que se justifica também com o crescimento do número de doentes que escolhem o transplante como primeira opção de tratamento.

Segundo a Newsletter Transplant de 2015, que analisa a atividade da transplantação em todo o mundo, Portugal regista o maior índice de novos doentes, a par da Turquia. No final de 2014, existiam 1970 doentes em lista de espera para um transplante renal.

O rim é o órgão mais transplantado ao nível nacional, em valores que superam a média europeia.

Outro sinal positivo foi a realização do primeiro transplante renal triplo, numa colaboração entre os Hospitais de Santo António (Porto) e Santa Cruz (Lisboa) que lança novas esperanças aos que aguardam por um dador compatível depois de não ter sido encontrado nenhum entre os seus familiares. A lista de inscritos no programa de transplantes cruzados é ainda pequena (20 pares), mas as expectativas de que o sucesso desta intervenção tripla se reflita no aumento de interessados neste procedimento é grande.

Sabe-se também que o rim é o órgão mais transplantado ao nível nacional, em valores que superam a média europeia, afirmou recentemente o presidente da Sociedade Portuguesa de Transplantação (STP) numa entrevista à agência Lusa.

“A nossa taxa de recolha de órgãos por milhão de habitantes está nos 28, mas já esteve melhor, nos 31, em 2009, em que tínhamos o segundo lugar europeu na taxa de colheita e éramos os primeiros na transplantação”, sublinhou Fernando Macário.

Apesar dos bons resultados, a dificuldade continua a residir no facto de o número de órgãos disponíveis ser insuficiente para fazer face às necessidades.

Sendo que apenas 8% dos órgãos proveem de dadores vivos, em contraste com os 30% a 40% registados na região norte da Europa, esta será uma das áreas a apostar nos próximos anos, refere o presidente da instituição na mesma entrevista.

Apesar dos bons resultados, a dificuldade continua a residir no facto de o número de órgãos disponíveis ser insuficiente para fazer face às necessidades. E se este é o cenário em Portugal relativamente ao transplante renal, o mesmo acontece ao nível europeu e na transplantação em geral. Estima-se que, diariamente, 11 pessoas morrem à espera de um transplante na União Europeia.

As outras áreas da transplantação ao nível nacional encontram-se também numa situação de recorrente redução do número de dadores, o que leva o presidente da Sociedade Portuguesa de Transplantação a apelar que se olhe para a transplantação como uma prioridade.

Estima-se que, diariamente, 11 pessoas morrem à espera de um transplante na União Europeia.

“(...) Os anos em que tínhamos mais de 30 dadores por milhão de habitantes parecem já muito longínquos. Desde 2011, nunca mais se recuperou o ritmo de transplantação dos dois anos anteriores e a promessa de recuperação do primeiro semestre de 2014 gorou-se no segundo semestre, com taxas de doação de órgãos e, consequentemente, de transplantação a caírem de forma significativa. O enorme esforço organizativo e legislativo que se reconhece está aquém do necessário devido à gritante falta de meios e recursos alocados à colheita de órgãos e à transplantação”, afirma Fernando Macário na mais recente edição da revista oficial da STP.

Para regressar aos bons números, defende-se o investimento na sensibilização para a doação em vida, com uma deteção de dadores mais eficaz, uma colheita e preservação de órgãos assente em tecnologias adequadas e na crescente capacitação dos recursos humanos ligados à transplantação.

Neste Dia Europeu da Doação e Transplantação, que se assinala a 10 de outubro e tem como anfitriã a cidade de Lisboa, vamos fazer a nossa parte e ajudar a sensibilizar mais pessoas para esta causa. Se fizer parte do grupo de pessoas que ainda tem dúvidas sobre o que fazer e como fazer para ajudar os que esperam por uma doação, participe nas iniciativas do Dia Europeu da Doação e Transplantação e esclareça todas as questões junto de profissionais e especialistas.

Consulte o programa em http://www.eodd2015.pt/pt/.

 

 

Pelo Rim

 

 

Imagem: 'Kidney transplant surgery' de 'Tareq Salahuddin' via Flickr.com sob licença CC BY 2.0