Terapêuticas de substituição da função renal - Hemodiálise
O que acontece se os rins ‘pararem’?
Os rins são órgãos que servem para filtrar o sangue a assim remover os tóxicos e água, produzindo urina. Quando os rins deixam de funcionar e ‘param’ existem duas hipóteses de substituir as suas funções: uma é pondo um rim ‘novo’ (transplante) e a outra consiste em fazer a desintoxicação do sangue através de tecnologias externas (diálise). Dentro das opções de diálise existem duas possibilidades: hemodiálise (limpeza através de uma máquina) ou diálise peritoneal (limpeza através de soluções).
Nenhum meio de substituição da função renal é tão completo como o original (rim nativo), de forma que nenhum método é totalmente eficaz ou por outras palavras: nenhum método cura o doente renal crónico da sua doença.
Hemodiálise – uma das opções de diálise
A hemodiálise é uma técnica dialítica em que uma máquina ‘faz’ o trabalho de desintoxicação dos rins. Isto é levado a cabo através da limpeza do sangue que sai por um acesso vascular, é filtrado e devolvido ao corpo, limpo.
Quais os requisitos para hemodiálise?
Este processo exige a construção (atempada) de um acesso que deve ser inicialmente uma fístula (por ter um menor risco de complicações) ou uma prótese. Esta é criada através de uma pequena cirurgia que deve ser feita pelo menos dois meses antes da necessidade de iniciar hemodiálise. Se essa fístula ou prótese não estiverem disponíveis à data de iniciar hemodiálise, tem que ser colocado um cateter venoso central.
Onde pode ser feita?
A hemodiálise é feita num hospital ou clínica onde médicos e enfermeiros assistem ao processo.
Como é feita?
A hemodiálise é feita habitualmente três vezes por semana, durante cerca de quatro horas, mas isto pode variar de acordo com a condição de cada doente.
Durante a hemodiálise, um enfermeiro vai colocar duas agulhas no acesso do braço. Se o doente tiver um cateter venoso central, este será conectado aos tubos da máquina de diálise para prosseguir depois com a limpeza do sangue.
Que problemas podem acontecer durante a hemodiálise?
As pessoas podem ter problemas com o seu acesso (ficar infetado, ficar bloqueado ou parar de funcionar) ou durante os tratamentos em si. Estes últimos podem incluir a diminuição da tensão arterial, cãibras musculares, náuseas ou vómitos, dificuldade em respirar. Estes sintomas são controláveis e não acontecem nem na maior parte das pessoas, nem na maior parte das sessões.
Quais são os cuidados que uma pessoa deve ter em hemodiálise?
Cuidar do acesso - não se deve usar o braço para tirar sangue ou medir a pressão arterial.
Verificar o funcionamento do acesso todos os dias - quando o acesso está a funcionar normalmente, o sangue flui através dele e sente-se uma vibração sob essa área.
Pesar-se todos os dias - quando os rins não funcionam, os líquidos acumulam-se no corpo de uma forma muito rápida que pode ser avaliada diariamente.
Seguir a dieta recomendada – é necessário limitar a quantidade de líquidos que se ingere. Também pode precisar de evitar alimentos com uma grande quantidade de sódio, potássio e fósforo. Estes são minerais que podem acumular-se no corpo.
Pode-se viajar se fizer hemodiálise?
Sim, mas isso implica que se contacte um centro de hemodiálise para o local onde vai viajar, uma vez que o tratamento não pode ser interrompido (link para os artigos das férias e deslocações).
Quais as vantagens e desvantagens da hemodiálise?
Vantagens - não existe vantagem em termos de eficácia relativamente ao outro tipo de diálise (diálise peritoneal). A escolha entre os dois tipos de diálise é geralmente baseada em outros fatores, como as preferências do doente e os problemas médicos subjacentes. O doente deve começar pelo tipo de diálise que considera mais vantajosa para o seu estilo de vida, sendo possível mudar. No entanto, se o doente não pode assumir o tratamento sozinho ou não tem quem o faça por ele, a hemodiálise será o tratamento mais indicado.
Desvantagens – a pressão arterial baixa é a complicação mais comum da hemodiálise e pode ser acompanhada de tonturas, falta de ar, dores abdominais, náuseas ou vómitos. Tratamentos e medidas preventivas estão disponíveis para esses problemas potenciais. Contam-se também entre as desvantagens os problemas com o acesso que podem limitar a qualidade de vida do doente e da própria diálise.
As doenças crónicas são situações que implicam uma grande capacidade de adaptação da pessoa à sua condição. As doenças crónicas condicionadas por insuficiência de órgão (aquelas em que uma parte fundamental do organismo deixa de funcionar) são particularmente difíceis e potencialmente limitantes ou mesmo fatais. No entanto, para a insuficiência renal existem ‘máquinas’ que permitem manter o doente vivo, que permitem prolongar a vida que, de outra forma, estaria acabada. Assim, o doente que se depara com a necessidade de iniciar ou se manter em diálise deve encarar esta situação como uma segunda oportunidade de viver que antes do advento destas tecnologias não existia…
Ana Farinha - Nefrologista
Imagem: Plugged into dialysis de Dan sob licença CC BY 2.0