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Terapêuticas de substituição da função renal - Transplantação Renal

 

O que acontece se os rins ‘pararem’?

Os rins são órgãos que servem para filtrar o sangue a assim remover os tóxicos e água, produzindo urina. Quando os rins deixam de funcionar e ‘param’ existem duas hipóteses de substituir as suas funções: uma é pondo um rim ‘novo’ (transplante) e a outra consiste em fazer a desintoxicação do sangue através de tecnologias externas (diálise). Dentro das opções de diálise existem duas possibilidades: hemodiálise (limpeza através de uma máquina) ou diálise peritoneal (limpeza através de soluções).

Nenhum meio de substituição da função renal é tão completo como o original (rim nativo), de forma que nenhum método é totalmente eficaz ou por outras palavras: nenhum método cura o doente renal crónico da sua doença.

 

O que é a transplantação renal?

A transplantação renal é a forma mais próxima de substituir os rins nativos que deixaram de funcionar. O princípio passa pela colocação cirúrgica de um novo rim que fará a ‘limpeza’ do sangue, tal como o rim nativo, e produzirá urina na sequência desse processo. Isto permite eliminar os tóxicos do sangue. O rim transplantado substitui também a função endócrina do rim, o que permite ao doente deixar de fazer a medicação para a anemia (se tiver necessidade dela previamente). Apenas é preciso um rim para substituir as funções dos rins que pararam.

O novo rim pode ser obtido de um dador vivo (habitualmente um familiar ou amigo que faz a dádiva benevolamente) ou de um dador morto (dador cadáver).

 

Transplante de dador cadáver

O dador cadáver é a origem mais frequente de rim para transplante no nosso país. Este é obtido de alguém que faleceu em morte cerebral (funções vitais perdidas de forma irreversível), mas cujos órgãos estão em condições de se manter viáveis em outras pessoas. No entanto, o número de pessoas em lista de espera para um rim de dador cadáver é francamente superior à disponibilidade de órgãos, pelo que isso implica um tempo de espera em diálise até aparecer um transplante disponível e compatível.

 

Como é feita a seleção de um rim de cadáver para um recetor?

Além da escassez de órgãos para transplante, não é qualquer rim que serve a qualquer doente. Para melhorar os resultados do processo de transplantação, o rim deve ser o mais compatível possível. Por outras palavras, o rim transplantado deve ser o mais parecido possível com os rins nativos da pessoa que o vai receber, de forma a minimizar o risco de rejeição. Portanto, a semelhança entre os órgãos é um dos critérios para atribuir a um recetor, de entre a longa lista, um rim disponível. Depois, contam outros critérios que dependem da legislação de cada país. Em Portugal, o tempo em diálise e a idade (sendo as crianças ‘prioritárias’) são também fatores importantes.

 

Transplante de dador vivo

A melhor forma de não ter que esperar numa lista por um rim é ter quem lho dê! A lei portuguesa, atualmente, não tem restrições sobre quem dá (pode ser um amigo, um cônjuge) desde que essa dádiva não implique, na realidade, uma venda (é expressamente proibido vender órgãos). É também um pressuposto para a dádiva que a pessoa que dá seja saudável, isto é, que não venha a ser prejudicada pelo facto de ter dado um rim. Finalmente, põe-se também neste caso o pressuposto de terem que ser compatíveis os rins entre o dador e o recetor.

Em geral, os órgãos de dadores vivos funcionam melhor e por períodos mais longos que os de dadores cadáveres. Há, ainda, a vantagem de o transplante ser programado para a melhor condição física do dador e do recetor, sem necessidade de passar por diálise antes.

 

Todas as pessoas são candidatas a transplantação renal?

A transplantação renal é considerada o tratamento ideal para muitas pessoas porque melhora a qualidade de vida e a sobrevivência. No entanto, isto não acontece com todas as pessoas em falência renal e nalgumas, os riscos da transplantação são superiores aos benefícios. A idade avançada pode constituir uma dessas situações, até porque se associa a múltiplas comorbilidades (doenças). Algumas dessas condições são:

  • doença cardíaca que pode limitar a capacidade de ‘passar’ pela cirurgia sem desequilíbrio dessa patologia;
  • doença vascular que pode comprometer a viabilidade do rim transplantado ou do próprio doente com agravamento da situação de base;
  • cancro ativo ou tratado recentemente, pelo risco de este progredir;
  • doença mental mal controlada que impeça a capacidade de perceber o tratamento ou as indicações a seguir;
  • obesidade grave que torna o risco de insucesso da cirurgia e de falência do transplante, aumentados;
  • uso atual de drogas ou álcool que interferem com a medicação imunossupressora e capacidade de a manter;
  • histórico de baixa adesão aos medicamentos ou tratamentos de diálise (pelos mesmos motivos acima descritos);
  • doença crónica que possa levar à morte dentro de pouco tempo.

 

Algumas pessoas com a infeção pelo VIH podem ser elegíveis para o transplante renal se a sua doença estiver bem controlada e não tiverem outras comorbilidades. O mesmo acontece para as pessoas com Hepatite B ou C. Pessoas com outras condições médicas são avaliadas caso a caso para determinar se a transplantação renal é uma opção.

 

Quais são os principais cuidados após a transplantação renal?

Depois de um transplante de rim, as pessoas precisam de tomar medicamentos para o resto da sua vida, para impedir o seu corpo de reagir contra o novo rim. Esta medicação chama-se imunossupressão. É uma medicação que diminui as defesas do recetor para que este não ataque o rim transplantado, mas simultaneamente diminui também as defesas contra infeções e cancros, o que é uma desvantagem da transplantação renal.

Assim, a toma desta medicação tem que ser rigorosa. É também por este motivo que tem que ser feita a monitorização frequente da medicação para sejam ajustadas doses e associações de fármacos.

 

Quais as vantagens e desvantagens da transplantação?

Vantagens - a transplantação renal é o tratamento de eleição para muitas pessoas com doença renal em estágio final. Um transplante renal bem-sucedido pode melhorar a qualidade de vida e reduzir o risco de morrer. Além disso, as pessoas que se submetem a transplantação renal deixam de precisar de dispender tempo para diálise. Idealmente, os doentes elegíveis para transplantação renal devem fazê-lo antes mesmo de começar a fazer diálise.

Desvantagens - o transplante renal é um procedimento cirúrgico que tem riscos durante e após a cirurgia. Os riscos da cirurgia incluem infeção, hemorragia, danos em outros órgãos e até mesmo a morte (embora isso seja muito raro). Existem depois os riscos associados à imunossupressão, como sejam a infeção e o aumento da suscetibilidade a neoplasias.

 

 

A possibilidade de receber um rim de um ente querido é um privilégio para quem recebe, mas também para quem dá. Vários estudos científicos mostram que o dador vivo não prejudica a saúde com a dádiva e as declarações de dadores são frequentemente no sentido do bem-estar, do fortalecimento da relação com a pessoa a quem se dá o rim. A Sociedade Portuguesa de Transplantação têm um slogan que diz “Doar um rim é vida”. Dar um rim a uma pessoa que se ama é a oportunidade de oferecer esperança e qualidade de vida.

 

 

Ana Farinha - Nefrologista

 

 

Imagem: 7:26 pm - Kidney transplanted de Scott & White Healthcare sob licença CC BY-NC-ND 2.0